Do Papiro à Reciclagem: Como é produzido e reciclado o papel?

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Descubra a história do papel e como é realizado sua produção nos dias atuais. Veja também a importância da reciclagem deste resíduo sólido.

A reciclagem de papel no Brasil tem boas possiblidades de crescimento. Ela pode impulsionar a economia e ampliar a geração de emprego e renda, além de impactar diretamente o meio ambiente, ajudando na proteção da natureza.

No entanto, antes de abordarmos o processo operacional e a importância da reciclagem desse material, partiremos da história do papel.

Como tudo começou?

Podemos dizer que a história do papel atravessa os continentes e o tempo!

No ano 4000 a.C, o papiro e o pergaminho eram utilizados como meio de escrita.

Tudo começou, quando os antigos egípcios descobriram que podiam montar folhas macias para escrever a partir da medula da cana (Cyperus Papyrus), que crescia nos pântanos alagados do rio Nilo.

As canas eram cortadas e ficavam dispostas lado a lado formando duas fileiras perpendiculares de fibras, em seguida, elas eram prensadas e postas para secar formando assim o papiro.

O papiro foi por muito tempo um meio de escrita utilizado pelos gregos, romanos, persas e árabes.

Já o pergaminho era feito de couro e animais (como ovelhas, cabras e bezerros), que era limpo, curtido, lixado e esticado em armações de madeira. Seu nome é originado de Pérgamo (colônia grega) onde ele foi inventado.

Estima-se que o papel surgiu no século 2 D.C., substituindo o papiro e o pergaminho (mencionados acima).

Segundo ReciclaSampa, o papel teve sua origem no ano 105 pelo chinês Ts’Ailun. Segundo registro, Ts’Ailun era um funcionário da corte imperial e apresentou o primeiro papel para o Imperador Ho Ti, durante a chamada dinastia Han, e que recebeu títulos aristocráticos pelo invento.

Esse papel criado por Ts’Ailun era produzido por meio da desintegração de fibras de diversos materiais (fibras de algodão extraídas de roupas velhas, panos e trapos) e logo tornou-se produto de importação chinesa.

Porém, durante muito tempo, a técnica de produção do papel ficou em segredo e alguns fabricantes chineses foram capturados por árabes e forçados a ensinar essas técnicas de produção.

Segundo Aquino (2010), com a chegada das máquinas de impressão no século 15, houve um aumento no consumo de papel, fazendo com que ficasse escassa a matéria-prima utilizada para a produção do papel. Dessa forma, foi necessário buscar outras alternativas para a produção do material.

Apesar do francês René Antoine de Reaumour ter dado a ideia de usar fibras extraídas da madeira em 1719, foi só a partir de 1850 que diversos inventores, como o alemão Friedrich Keller, o inglês Hugo Burgess e o americano Benjamin Tilghman, tornaram isso viável (MANDEL, 2011).

Para isso, foi preciso aperfeiçoar um método de “digerir” a madeira com produtos químicos, de modo a extrair a celulose e obter o papel que temos hoje.

Origem no Brasil

No ano de 1852, a primeira fábrica para produção de papel se instalou no Brasil. No entanto, somente em 1956 que ocorreram os primeiros investimentos governamentais significativos no setor.

Em 1968, com o aporte de recursos de uma empresa Norueguesa no Rio Grande do Sul, iniciou-se o processo de potencialização da produção do papel em larga escala.

E, a partir da década de 1970, com incentivos do governo para a produção de papel para exportação, ocorreu crescimento significativo para o setor consolidado já na década seguinte.

Hoje, por exemplo, o mercado de papel e celulose brasileiro tem uma grande importância na economia e é responsável por aproximadamente 1% do PIB do país.

Produção de Papel

Como já mencionado anteriormente, o papel é produzido por meio da fibra da celulose (extraída da madeira), sendo que as espécies mais utilizadas são:

  • Pinheiros: Essa árvores possui fibras mais longas, são mais resistentes e oferecem baixo custo na produção; e
  • Eucaliptos: Crescem em menor tempo, otimizando também o tempo de produção do papel.

É importante salientar que a qualidade do papel é medida em fibras de celulose, ou seja, independente do processo, as fibras longas possibilitam maior teor de celulose. Quanto menor as fibras, menor a qualidade do papel.

OBS: Para baixar o PDF da imagem acima clique aqui.

Mas a pergunta é como ocorre esse processo de transformação da matéria-prima (madeira) em papel?

Segundo Spinelli (2017), o processo de transformação de madeira em folha começa com o cozimento das lascas de árvore (toras de madeira). Essas toras de madeira são picadas (formando pequenas lascas) e então são encaminhadas a um tanque para o cozimento.

No tanque (chamado digestor), essas lascas são cozidas dentro de um líquido composto por: água; agentes químicos, como o sulfito, formando então uma polpa.

OBS: Essa polpa passa então por um processo de lavagem em tanques e centrífugas, onde extraem-se as lascas que não dissolveram-se, bem como outras impurezas.

Depois, ela é deixada em repouso em outros tanques, numa etapa chamada de branqueamento, para separar a celulose de outros resíduos.

Mas se você pensou que o processo acabou por aqui, esta enganado!

Segundo Spinelli (2017), essa polpa ainda contém um alto teor de água, desta forma, ela passa então por uma máquina chamada de “mesa plana”. Essa máquina é responsável pela transformação dessa massa úmida em uma grande folha contínua e lisa.

A grande folha, movida pela esteira rolante, passa por rolos de prensagem e secagem com ar quente, que retiram o excesso de água, compactam o papel e alisam a folha. Dependendo do tipo de produto que se quer, ela ainda passa pelo coater (revestidora), um rolo que aplica uma película que protege ou dá brilho ao papel – como no caso do cuchê (VOITH, 2019).

E finalmente, a folha passa por um aparelho chamado enroladeira e por rolos de rebobinagem, onde o papel se descola da esteira rolante e forma enormes rolos – ou bobinas, estando pronto para o corte e pronto para o corte e o empacotamento.

No entanto, para que o processo ocorra é utilizado muita matéria -prima, ou seja, muitas árvores derrubadas para produzir papel além do grande consumo de água no processo.

É importante mencionar que, hoje em dia, grande parte do papel é produzido a partir de florestas geridas no âmbito de uma Política de Gestão Florestal que visa o desenvolvimento sustentado e a preservação do ambiente (ROTH, 2019).

O Instituto Akatu, organização não-governamental que trabalha para um consumo consciente, apresenta que para cada quilo de papel produzido, 540 litros de água são utilizados. Em outras palavras, se uma empresa que consome 600 mil folhas de papel por ano, imprimindo os documentos em frente e verso, é possível gerar uma economia 384 mil litros por ano, o equivalente ao abastecimento para 30 famílias no mesmo período (INSTITUTO AKATU, 2019).

A Organização Mundial Water Footprint Network (2016) enfatiza ainda que para a produção de cada folha de papel A4 são gastos 10 litros de água. Isso ocorre pois para o branqueamento do papel (A4), a celulose passa por inúmeros processo de lavagem.

Produção

Monteiro (2018) nos apresenta que para cada tonelada de papel são necessários:

  • 2 toneladas de madeira;
  • 15 árvores;
  • de 44 a 100 mil litros de água; e
  • de 5 a 7,6 mil KW de energia;

E que para cada tonelada de papel gera (volume de lixo):

  • 18 kg de poluentes orgânicos descartados nos efluentes; e
  • 88 kg de resíduos sólidos (de difícil degradação).

Após vermos esses dados, pergunto “Porque reciclar?

A resposta é simples, além de evitar corte de árvores, no processo de reciclagem de papel o volume de água utilizado cai para 2 mil litros e o consumo de energia cai para 2,5 mil KW. (como já mencionamos acima o consumo de água no processo é alto).

Em outras palavras, além de reduzir o consumo de energia, a emissão de poluentes e o uso de água, a reciclagem diminui a porcentagem de papel descartado como resíduo.

O que encaminhar para a Reciclagem?

Podemos encaminhar para reciclagem jornais, revistas, folhas de cadernos, livros e apostilas, caixas, embalagens tetra pak, papel de embrulho, sacos de papel, embalagens diversas.

Papeis recicláveis. Fonte: Pixabay.

Em outras palavras, encaminhar papeis e papelão para a reciclagem pode ser bastante simples, mas antes é preciso conhecer algumas regras fáceis de seguir e importantes.

A primeira dica é sobre como encaminhar. Vale lembrar que não só papel sanitário ou papel toalha não podem ser reciclados. Qualquer papel sujo de gordura e com sobras de alimento não devem ser encaminhados pela coleta seletiva. Caixas de pizza ou outros alimentos com queijo ou óleo não são recicladas e devem ser descartadas (ALMEIDA et.al, 2016).

OBS: Lembre-se de lavar as embalagens de tetra pak antes de manda-las a reciclagem.

É importante frisar que papeis que contenham laminados/alumínio ou aqueles que passaram por processo químico, como fotografias, Celofane, carbono, revestidos com parafina, silicone adesivos com com colas e ceras não são reciclados.

Mas o principal cuidado a se tomar é como mandamos o papel para a reciclagem!

Isso mesmo, além de limpos, os papeis devem estar secos, não podem estar rasgados*. Outro detalhe é que para facilitar o processo, se possível, antes de por para reciclagem, retirar os elásticos, grampos, capas plásticas, espirais e as cola que prende as folhas.

*Papel rasgado não pode ser reciclado, pois acaba estragando as fibras do papel o que dificulta no processo.

Processo e Reciclagem do Papel

Na primeira etapa do processo de reciclagem de papel, o material coletado é triturado e forma uma espécie de pasta de celulose, que em seguida será peneirada com o objetivo de retirar todas as impurezas.

Para a realização da retirada das impurezas é adicionado a pasta de celulose outros compostos químicos, como água e soda cáustica. Esses compostos funcionam como uma espécie de refinadores, responsáveis pelo processamento da pasta.

Esse processamento tem como objetivo, melhorar a ligação entre as fibras de celulose, realizando assim o branqueamento do material. Em seguida, a pasta segue para as máquinas produtoras de papel.

Um detalhe a ser destacado é que para que a qualidade na reciclagem irá depender do processo aplicado. Isso porque a contaminação com outros materiais, como ceras, plástico, tintas, metais e vidros, por exemplo, não pode ocorrer.

E para que isso não ocorra, dentro da empresa há uma subdivisão entre o papel reciclável e o papel não reciclável.

Quantas vezes podemos reciclar o papel?

Muitas vezes já nos perguntamos “Existe um limite para o número de vezes que um papel pode ser reciclado”?

A resposta para essa pergunta é sim!

Segundo dados da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, o papel pode ser reciclado até 6 vezes.

Isso porque a cada novo processo de reciclagem, as fibras (do papel) se tornam mais curtas, grossas e duras, sendo assim, a fibra reciclada acaba tendo de ser misturada à fibra virgem para a produção de um papel com a qualidade desejada.

Importância da Reciclagem

De acordo com o Instituto Akatu (2019), a reciclagem de papel contribui diretamente para a preservação dos recursos naturais, um número menor de árvores são derrubadas, redução da poluição e da geração de resíduos urbanos sólidos além da economia de água (já citada anteriormente) e energia.

Na fabricação tradicional de uma tonelada de papel, é necessário o uso de 100 mil litros de água. Já os reciclados precisam de somente dois mil litros de água por tonelada fabricada. Já para o consumo de energia, os números são impressionantes, que é algo aproximado entre 50% a 80% de economia (RECICLA SAMPA, 2018).

Vale frisar que além da importância ecológica e econômica a reciclagem também tem um caráter social. Isso mesmo! Pois estamos falando de geração de emprego, principalmente, em cooperativas de catadores e recicladores de papel.

Segundo Machado (2013), estima-se que, ao reciclar papéis, sejam criados mais empregos do que na produção do papel de celulose virgem, uma vez que na reciclagem existem os processos de coleta, triagem e classificação dos materiais.

Diante de tantas vantagens, países como a Alemanha, por exemplo, vem investindo cada vez mais na reciclagem de papel.

Lá o papel reciclado é misturado com vários outros tipos de papéis (isso mesmo com a fabricação tradicional de papel), existem tecnologias para monitorar a qualidade do papel com a do papel tradicional.

Desta maneira, o uso do reciclado é aplicado em quase todos os setores de consumo e demanda. São boas práticas a serem seguidas no Brasil.

Já no Brasil, apenas 37% do papel produzido vai para a reciclagem, sendo que 80% é destinado para a confecção de embalagens, 18% para papéis sanitários e somente 2% para impressão.

Porém acredito que com boas politicas públicas, incentivo e orientação da sociedade quanto a reciclagem do papel, esses números irão mudar.

Outras formar de produzir papel

Você sabia que é possível produzir papel a partir de outros materiais?

Isso mesmo! Em 2015, a empresa Cronology, localizada no México, produziram papel a partir de outros materiais recicláveis como o PET (polímero termoplástico), por exemplo.

Esse papel é biodegradável e não necessita de água nem componentes químicos em sua produção. Além disso, pode substituir o papel tradicional tranquilamente.

OBS: Saiba como funciona o processo de fabricação do papel de PET clicando aqui.

Além do papel de PET temos também o papel de plástico feito a partir da reciclagem de embalagens de biscoito, picolé, salgadinhos, barrinhas de cereal e sacolas plásticas.

Esse papel de plástico foi batizado de Vitopaper e é produzido no Brasil pela empresa Vitopel e foi desenvolvido em parceria com a universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo.

Segundo Vitopel (2016) “o Vitopaper não fica amarelo, não molha e não rasga facilmente. Ele se assemelha com o papel couchê e pode ser utilizado para a impressão de diversos materiais, inclusive livros e cadernos. A cada tonelada de Vitopaper produzida, estima-se que 750kg de plástico deixem de ir para o lixo”.

Considerações Finais

Por mais que a Indústria do Papel seja lucrativa, a mesma traz alguns impactos ao meio ambiente como o alto consumo de água e energia, além de outros impactos ao meio ambiente.


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Referências:

ALMEIDA, H.L.ANTUNES, L; SILVA, A.B; MENDES, S.As atividades da logística reversa e a cadeia de suprimentos do papel para embalagem. Encontro Internacional sobre gestão empresarial e meio ambiente - ENGEMA. 2016, 150 p.

AQUINO, M.C. Produção de Papel. Editora Fonseca.São Paulo, 2010, 50 p.

Instituto Akatu. Importância da Reciclagem. 2019. Disponível em:<https://www.akatu.org.br/>. Acesso em: 23. jul. 2020.

MACHADO, G. B. 2013. Reciclagem de papel.Disponível em: <http://www.portalresiduossolidos.com/reciclagem-de-papel-2/>. Acesso em: 15. jul. 2020.

MANDEL. A origem do papel. São Paulo, 2011, 200 p.

MONTEIRO, S.A. A Importância da reciclagem de papel. 2018. 50 f.

RECICLA SAMPA.Papel. 2018. Disponível em:<https://www.reciclasampa.com.br/artigo/historia-e-reciclagem-de-papel:-entenda-o-processo-e-como-fazer>. Acesso em: 22. jul. 2020.

ROTH. Como é feito o papel.2019. Disponível em:<https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-feito-o-papel/>. Acesso em: 22. jul. 2020. 

RECIPAC. Produção de Papel. 2020. Disponível em:<http://recipac.pt/o-ciclo-do-papel/producao-de-papel/>. Acesso em: 19. jul. 2020.

SPINELLI, S.A. Reciclagem do Papel. Rio de Janeiro. Átiva. 2017, 150 p.

VITOPEL. Soluções em Filmes Flexíveis.2016. Disponível em:<http://www.vitopel.com/>. Acesso em: 24. jul. 2020.

VOITH. Produtos, Serviços e Tecnologia. 2019. Disponível em:<http://www.voith.com/br/produtos-e-servicos/tecnologia-de-fabricacao-de-papel/duoshake-3276.htm>. Acesso em: 19. jul. 2020.


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Author: Émilin CS

Engenheira ambiental. Têm experiência na área de saneamento e gestão ambiental, buscando soluções usando QGIS e Bizagi. Atua na área de modelagem matemática para rompimento de barragens com software HEC-RAS.

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