Fogueira na praia: A origem e reciclagem do vidro

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Descubra a origem do vidro e como o seu desenvolvimento se aperfeiçou ao longo do tempo. Veja também os tipos de vidro e como é realizado sua reciclagem.

Sabemos que a reciclagem consiste no processo em que há a transformação do resíduo sólido que não seria aproveitado, com mudanças em seus estados físico, físico-químico ou biológico, de modo a atribuir características ao resíduo para que ele se torne novamente matéria-prima ou produto, segundo (NEUFERT, 2011).

E diante disso! Você certamente já se perguntou como um determinado produto é produzido, qual sua origem, ou ainda, quantas vezes ele pode ser reciclado?

Em outra postagem realizada, falamos sobre a reciclagem do papel e sua origem, por exemplo.

Agora falaremos da reciclagem do vidro, sua origem e muito mais!

Origem do Vidro no Mundo

Sabemos que o vidro é feito de uma mistura de matérias-primas naturais, mas será que sempre foi assim?

Segundo ABIVIDRO (2008), há relatos de que o vidro foi descoberto por acaso no ano de 7.000 a.C por sírios, fenícios e babilônios, quando, ao fazerem fogueiras na praia, eles perceberam que a areia e o calcário (oriundo das conchas) combinavam-se através da ação da alta temperatura.

Vídeo educativo que conta de onde vem o vidro.

OBS: É importante destacar que os dados e datas sobre a origem do vidro são incertos e que os dados levantados e apresentados pelos historiadores baseiam-se no encontro de vestígios do vidros em algumas regiões.

Segundo Cebrace (2015):

Foram descobertos objetos de vidro nas necrópoles egípcias, por isso, imagina-se que o vidro já era conhecido há pelo menos 4.000 anos antes da Era Cristã, e que fora descoberto de forma casual. Alguns autores apontam os navegadores fenícios como os precursores da indústria do vidro. Ancorados em uma praia da costa da Síria, os Fenícios improvisaram uma fogueira utilizando blocos de salitre e soda e, algum tempo depois, notaram que do fogo escorria uma substancia brilhante que se solidificava imediatamente. Ali nascia o vidro.

Segundo Neufert (2011), o vidro é obtido aquecendo uma mistura de sílica (areia), soda cáustica e sal em alta temperatura (1700ºC), até os três elementos derreterem e, em seguida, cristalizarem.

OBS: Detalharemos melhor sobre sua fabricação no decorrer desta postagem.

É importante frisar que quando o vidro foi descoberto, fabricavam-se apenas blocos maciços e somente por volta de 2000 a.C (data também estimado pelos historiadores), começou-se a moldar pequenas vasilhas despejando-se a “massa de vidro” em uma vasilha.

Somente mais tarde (1500 anos depois), os Egípcios começaram a fazer vidro para janelas. Para que o vidro ficasse com o formato de uma janela, eles colocavam a massa sobre uma mesa de bordas altas, para que o material não viesse a escorrer e em seguida alisavam essa massa com um rolo (NAKAMURA, 2007).

Mas com o passar dos anos, as técnicas foram se aprimorando. No ano 100 a.C, os romanos começaram a utilizar o sopro (dentro dos moldes) para a fabricação do vidro (o que possibilitou no aumento de sua produção).

OBS: O ferro de assoprar permite moldar o vidro no formato que desejar.

Apenas próximo ao ano 100 a.C., as técnicas de fabricação se desenvolveram. Foi quando os romanos começaram a utilizar o sopro, dentro de moldes, na fabricação do vidro, o que possibilitou sua produção em série.

No século XIII, Veneza também teve sua contribuição para a fabricação do vidro. As vidrarias de Veneza (mais precisamente da cidade de Murano) produziam vidros de diversas cores. Esse tipo de técnicas foi considerada um marco na história do vidro.

No entanto, essas melhorias, aprimoramentos variam de região para região.

Na França, por exemplo, a fabricação do vidro ocorre desde a época dos romanos. No entanto, ela só começou a prosperar e se aprimorar no século XVIII.

Isso ocorreu pois, segundo Richards (2006), em meados deste século, o rei francês Luís XIV reuniu alguns mestres vidreiros e montou a Companhia de Saint-Gobain, para que fossem feitos os espelhos do Palácio de Versalhes na França, uma das mais antigas empresas do mundo, hoje, uma companhia privada.

Mas e no Brasil? qual foi a história do vidro?

Origem de Vidro no Brasil

Clemence (2016) destaca que:

A história da indústria do vidro no Brasil iniciou-se com as invasões holandesas no período entre 1624 e 1635, em Olinda e Recife (PE), onde a primeira oficina de vidro foi montada por quatro artesões que acompanhavam o príncipe Maurício de Nassau. A oficina fabricava vidros para janelas, copos e frascos. Com a saída dos holandeses, a fábrica fechou.

Somente em 1810 que o vidro voltou para o mercado econômico brasileiro. Relatos contam que em 12 de janeiro de 1810 o português Francisco Ignácio da Siqueira Nobre recebeu uma carta régia que autorizava na instalação de uma indústria de vidro no Brasil.

História do Vidro no Brasil.

A fábrica foi instalada na Bahia e produzia vidros lisos, de cristal branco, frascos, garrafões e garrafas entrando em operação em 1812 e fechando em 1825 devido a dificuldades financeiras.

Em 1839, um italiano, de nome Folco, funda no Rio de Janeiro a fábrica Nacional de Vidros São Roque, com 43 operários italianos e brasileiros, com fornos à candinhos e processo inteiramente manual. Sofre a concorrência das importações de produtos da Europa e sobras de consumo que são vendidas a qualquer preço. Já em 1861, a indústria vidreira brasileira apresenta os seus produtos na exposição nacional na Escola Central, no largo São Francisco, no Rio de Janeiro (PAULO, 2004).

É importante frisar que até o século XX, a produção de vidro era artesanal, utilizando somente processos de sobro e de prensagem, onde as peças eram produzidas uma a uma.

Foi somente no início do século XX que a indústria de vidro desenvolveu-se, ou seja, introduziu os fornos contínuos além de máquinas semi ou totalmente automáticas para produção em massa.

E de lá para cá a indústria de vidro só cresce no Brasil.

Porém diante de tanta história surgiu-nos a seguinte dúvida: como ocorre a produção do vidro?

Qual é a Composição do Vidro?

Antes de explicarmos a fabricação do vidro, vamos entender um pouco sobre sua composição.

O vidro é composto basicamente por areia, calcário, barrilha (carbonato de sódio), alumina (óxido de alumínio), gás carbônico e corantes ou descorantes (RECICLOTECA, 2015).

Em outras palavras, possuí a seguinte composição:

barrilha + calcário + areia → vidro comum + gás carbônico
Na2CO+ CaCO+ SiO→ silicatos de sódio e cálcio + gás carbônico
x Na2CO+ y CaCO+ z SiO→ (Na2O). (CaCO)y . (SiO2)z + (x + y) CO2

Sílica ou óxido de silício (SiO2): É o principal componente que forma o vidro e nada mais é do que areia. Sua quantidade percentual na fórmula do vidro chega a, aproximadamente, 70%, ela é extraída do leito de rios e de pedreiras. Óxido de cálcio (CaO): É utilizado na composição do vidro para dificultar a cristalização da sílica, pois ele não permite que os átomos do óxido de silício reorganizem-se corretamente em cristais de areia. Carbonato de sódio (Na2CO3) ou Óxido de sódio (Na2O): Utilizado para remover toda e qualquer bolha de ar durante o processo de fabricação do vidro, além de contribuir para uma boa dureza e rigidez. Facilita também a fusão da sílica. Alumina ou óxido de alumínio(Al2O3): Está na composição do vidro para conferir maior resistência a choques mecânicos e o Óxido de magnésio (MgO): Proporciona a capacidade de suportar mudanças bruscas na temperatura (NAKAMURA, 2007).

Após fabricado, ele possuí inúmeras aplicações em diferentes indústrias em virtude de suas características de inalterabilidade, dureza, resistência e propriedades térmicas, óptica e acústica, vindo a se tornar um dos poucos materiais ainda insubstituíveis.

Como é produzido o Vidro?

Até agora já falamos da origem do vidro, sua composição, mas a pergunta que não quer calar é “Como ocorre a produção do Vidro?”.

Segundo Divinal Vidros (2016) :

A fórmula conhecida do vidro contém areia de sílica, sódio e cálcio (já citadas anteriormente). Mas não é só disso que o vidro é feito. Além destes três materiais também há a inclusão de magnésio, alumina e potássio, todos facilmente encontrados na natureza. A proporção de cada material pode variar. Mas geralmente a composição é feita por 72% de areia, 14% de sódio, 9% de cálcio e 4% de magnésio. Alumina e potássio são incluídos apenas em alguns casos.

Após essa mistura, a matéria-prima é então encaminhada a um misturador, onde esses materiais serão processados para garantir homogeneidade.

Em seguida, a mistura é depositada em um forno industrial que pode chegar a altas temperaturas, próximas a 1.700ºC. Vale destacar que dentro desse forno ocorre o derretimento até que a composição se torne um único líquido viscoso.

OBS: Em seguida, esse líquido (vidro) é encaminhado às máquinas de conformação (estas são utilizadas de acordo com o tipo de vidro que se pretende obter).

Após conformada, a peça de vidro deve ser recozida, isto é, deve ser esfriada lentamente até a temperatura ambiente, aliviando, desta forma, as tensões que normalmente surgem durante a conformação e tornando a peça mais resistente (RECICLOTECA, 2015).

Tipos de Vidros

Segundo Recicloteca (2015), existem muitos tipos de vidros, mesmo considerando que eles partem da mesma base, porém possuem composições diferentes, de acordo com a finalidade a que se destinam.

Tipos de Vidros e suas Aplicações.

As melhorias no processo de fabricação do vidro proporcionaram a produção de diferentes tipos de vidros como os vidro temperados, laminados, liso, float, dentre outros.

O vidro Temperado apresenta este formato pois é submetido a tratamento o qual introduz tensões adequadas, ou seja, se houver quebra no vidro em qualquer ponto, o mesmo desintegra-se em pequenos pedaços menos cortantes (evitando assim acidentes ou cortes desnecessários).

Vidro Temperado.

O Vidro laminado é também considerado um vidro de segurança. Ele é confeccionado com duas ou mais chapas de vidro firmemente unidas e alternadas com uma ou mais películas de material aderente, de maneira que, quando quebrado, tende a manter os estilhaços colados nesta película.

Vidro Laminado.

O Vidro Float, por sua vez, é o vidro comum, liso, transparente e a matéria-prima que dá origem aos temperados, laminados, insulados, serigrafados e espelhos.

Vidro Float.

Sua composição inclui sílica, sódio, cálcio, magnésio, potássio e alumina. É aplicado na arquitetura, indústria moveleira, construção civil, automotiva e de linha branca (eletrodomésticos).

Outro tipo de vidro é o Vidro Duplo ou Insulado. Ele é formado por duas ou mais chapas de vidros (seladas) formando vazios entre as chapas paralelas.

Pode-se dizer que entre os dois vidros, há uma camada interna de ar ou gás desidratado (dupla selagem).

Segundo Zanoto (2000), a primeira selagem evita a troca gasosa, enquanto a segunda selagem garante a estabilidade do conjunto.

Temos também o Vidro Aramado. Esse tipo de vidro é formado por uma chapa de vidro que contém em seu interior, fios metálicos incorporados à sua massa durante a fabricação (VERÇOSA, 2000).

Vidro Aramado.

Um detalhe desse tipo de vidro, é que como ele possui fios metálicos, a tendência quando ele quebra é que os estilhaços se mantenham presos aos fios.

E por final temos o Vidro Térmico. Esse vidro tem a capacidade de absorver até 20% dos raios infravermelhos, reduzindo assim o calor que entra na edificação.

Segundo Yazigi (2009), dependendo do tipo de vidro, ele pode ser produzido em forma plana, curva, perfilada ou ondulada, transparente, translúcido ou opaco; superfície lisa, polida, impressa, fosca, espelhada, gravada, esmaltada ou termo refletida; colorido ou incolor.

OBS: Neufert (2011) afirma que para um equilíbrio das superfícies envidraçadas de um edifício, recomenda-se a utilização de apenas um tipo de vidro.

Mas diante de tantas opções de vidros, cores e formatos, eles podem ser reciclados?

Reciclagem do Vidro

Uma das principais vantagens do vidro é que ele pode ser reciclado 100%, podendo vir a ser usado posteriormente como matéria-prima para a fabricação de novos vidros (infinitas vezes), sem perder a sua qualidade ou pureza.

No entanto, durante seu processo de reciclagem, os produtos (tipos de vidros) devem ser separados por tipo e cores, por exemplo, os copos e vidros de doces não devem ser misturados aos vidros de janelas.

Porém, não é só sair por ai separando o vidro para reciclado, o mesmo quando chega as vidrarias passa por uma análise prévia, onde são verificados as impurezas (terra, plásticos, metais, dentre outros) que possam contaminar o vidro a ser produzido. Além disso, evita danificar os fornos e outros equipamentos utilizados.

Todo material reciclado passa por um beneficiamento, ou seja, as tampas e rótulos precisam ser retirados e as embalagens precisam passar por um processo de lavagem para que o resíduo seja removido (RECICLOTECA, 2015).

Outro detalhe, é que quando esses vidros retornarem às vidrarias, os mesmos devem ser lavados, triturados e os cacos são misturados com mais areia, calcário, sódio e outros minerais fundidos, conforme consta na figura abaixo.

Reciclagem no Brasil e Economia

Segundo dados da ABIVIDRO (2019), a reciclagem de vidro no Brasil movimenta aproximadamente R$ 120 milhões por ano.

 “As empresas que produzem o componente, geralmente, optam por usar 40% do caco de vidro em uma nova embalagem e 60% de composto virgem”, afirma Stefan David, gerente de sustentabilidade da Abividro. No país, o mercado produz mais de 8,6 bilhões de unidades por ano, o que equivale a 1,3 milhões de toneladas do material (ABIVIDRO, 2019).

Considerações finais

A reciclagem do vidro é de extrema importância para o meio ambiente, pois este levaria milhares de anos para se decompor (ou ficaria por tempo indeterminado no ambiente). Quando reciclamos o vidro ou compramos vidro reciclado, estamos contribuindo com o meio ambiente, pois este material deixa de ir para os aterros sanitários ou para a natureza (rios, lagos, solo, matas).

Pois além de ser 100% reciclável, o vidro é muito bem aplicado para embalagens retornáveis. Neste caso, a embalagem apenas sofre um processo de esterilização e pode ser utilizada novamente, como é feito com os cascos retornáveis de bebidas.

Em outras palavras, o uso de embalagens retornáveis reduz a necessidade de fabricação de novas embalagens, gerando assim economia na extração da matéria-prima, nos gastos com fabricação, além da redução com a emissão de poluentes provenientes do processo industrial.

E você separa os materiais para reciclagem? Se sim, comente logo abaixo da postagem.


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Referências:

ABIVIDRO. Associação Brasileira das Indústrias de Vidro. [Site]. 2008. Disponível em:<https://abividro.org.br/>. Acesso em: 20 Out. 2020.

ABIVRIDRO. Associação Brasileira das Indústrias de Vidro. Vidro: O Resíduo Infinitamente Reciclável. 2019. Disponível em:<https://abividro.org.br/2019/02/07/vidro-o-residuo-infinitamente-reciclavel/>. Acesso em: 10. Nov. 2020.

CEBRACE. Companhia Brasileira de Cristal. A História do Vidro. 2015. Disponível em:<https://www.cebrace.com.br/#!/enciclopedia/interna/a-historia-do-vidro>. Acesso em: 25 Out. 2020.

CLEMENCE, Amanda. A capacidade para o polo vidreiro. Diário de Pernambuco. Pernambuco. 2016.

DIVINAL, VIDROS. Como é feito o vidro? Conheça o processo de fabricação.2016. Disponível em:<https://www.divinalvidros.com.br/blog/como-e-feito-o-vidro-fabricacao/>. Acesso em: 13 Nov. 2020.

NAKAMURA, Juliana. Zona de conforto: soluções para prover conforto térmico às edificações precisam se conciliar com o entorno e com a demanda por redução do consumo de energia. 2007. 

NEUFERT, Ernest. A arte de projetar em arquitetura. 17a ed. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2011.

PAULO, Michela. Tecnologia Óptica: Novidades no Setor são as Lentes Fotocromáticas. Inovação Uniemp (online) 2007, Vol. 3 no. 2, pg. 38-39.Paulo: Editora Edgar Blücher, 2004.

RECICLOTECA. Centro de Informações sobre Reciclagem e Meio Ambiente. Vidro: história, composição, tipos, produção e reciclagem. 2015. Disponível em:<http://www.recicloteca.org.br/material-reciclavel/vidro/. Acesso em: 10 Nov. 2020.

RICHARDS, Brent. New glass architecture. North America. Yale University Press, 2006.

VERÇOSA, Enio. Materiais de Construção. Porto Alegre. Editora UFRS.2000. 

ZANOTO, Edgar Dutra. Vidros: Arte, Ciência, e Tecnologia de 4000 a.C a 2000 d.C.2000.


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Author: Émilin CS

Engenheira ambiental. Têm experiência na área de saneamento e gestão ambiental, buscando soluções usando QGIS e Bizagi. Atua na área de modelagem matemática para rompimento de barragens com software HEC-RAS.

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