Qual é o impacto da urbanização nos rios e como resolver esse problema?

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Cidades se desenvolvem nas margens de rios e geram diferentes impactos ambientais. Como podemos resolver esse problema?

Grande parte das cidades se desenvolvem às margens de rios e isso gera vários problemas tanto para a cidade quanto para o rio. Nesta postagem, o eng. ambiental e sanitarista William Paulo Ribeiro nos traz um pouco sobre esse tema. Confira.


A expansão das cidades de forma desordenada e insustentável resultou numa série de problemas ambientais, os quais podem ser observados desde tempos mais remotos até os dias atuais. Essa expansão, associada ao uso inadequado dos recursos ambientais, resulta na diminuição e fragmentação de áreas verdes e rios.

Os rios, destacando-se os compreendidos em espaços urbanizados, desempenham um papel primordial por influenciarem em diversos aspectos, como em fatores climáticos; seja na manutenção do microclima e no vínculo com a qualidade do ar, favorecendo diretamente no conforto térmico e visual.

É um entrave comum das cidades com intensa expansão urbana garantir o seu desenvolvimento aliado à preservação da Natureza. A ideia de sustentabilidade é de fundamental importância neste cenário, muito embora encontre obstáculos para se tornar realidade. O Brasil tem se esforçado para alcançar esse objetivo. A crise sanitária e a assolação dos recursos naturais são alguns dos principais desafios vistos no país. A preservação da qualidade e integridade dos seus rios, em especial aos compreendidos em espaços urbanos, é um tabu a ser superado.

Neste âmbito, observamos ao longo das décadas como o desenvolvimento urbano catalisou o processo de degradação dos rios brasileiros. Dentre estes, podemos citar exemplos notáveis como o Rio Tietê em São Paulo (YACAR, 2015), o Rio Paraíba do Sul (NEVES e NASSAR, 2017) na região sudeste, o Rio Capibaribe em Recife-PE (SILVA, 2004), o Rio Anil em São Luís-MA, o Riacho Salgadinho em Maceió-AL, na região nordeste, e o Rio Tucunduba em Belém-PA (MATOS, et al, 2004), na região norte.

Rio Anil, São Luís (MA). Fonte: O Imparcial.
Igarapé Tucunduba – Belém (PA). Fonte: Mapio.
Rio Capibaribe – Recife (PE). Fonte: O Bugio.
Riacho do Salgadinho – Maceió (AL). Fonte: Tribuba Hoje.
Rio Tiête – São Paulo (SP). Fonte: Infoescola.

Revitalização de Rios em Espaços Urbanos

Diante de tantos impactos, há a necessidade de restaurar tais recursos hídricos, sendo que existem diferentes exemplos ao redor do mundo e também no Brasil.

Na capital britânica, o Rio Tâmisa, hoje cartão postal e um dos símbolos de Londres, foi palco de um dos maiores eventos de degradação ambiental no mundo, tendo uma vez já sido decretado biologicamente morto. Chamado no século XIX de “O Grande Fedor de Londres”, hoje é destaque por sua estética renovada. Isso foi possível por conta dos diversos investimentos e iniciativas da capital e das cidades também banhadas por ele, utilizando procedimentos de dragagem e sistemas de coleta de esgoto, assim como no tratamento de efluentes provenientes das atividades em sua região.

Um dos primeiros indicadores do êxito do projeto foi o retorno da fauna local, a revalorização do ambiente pela população; ambiente o qual passou a ser mais salubre e atrativo.

Vista aérea do rio Tâmisa. Fonte: Henry Be no Unsplash.

Na Coreia do Sul, em Seul, o Rio Cheonggyecheon também passou por um amplo processo de revitalização. Durante a rápida industrialização do pós-guerra, movido juntamente com o êxodo para a capital devido às condições adversas vividas no cenário da guerra; as margens do rio foram ocupadas de forma desordenada formando grandes favelas ao longo do seu curso.

Em resposta a essa problemática, o governo investiu em obras para cobrir o rio, construindo um elevado acima dele, permanecendo no centro de Seul do final na década de 70 até o fim dos anos 90 (DISARO, 2015). Em 2003, na intenção de tornar Seul uma capital mais ecológica, o projeto de restauração do Cheonggyecheon se consolidou, onde foi demolida a estrutura do elevado, trazendo novamente o rio à vista.

Rio Cheonggyecheon e suas etapas de revitalização. Fonte: Viver a Viagem.
Rio Cheonggyecheon após revitalização. Fonte: Wikipedia.

O projeto uniu diversas técnicas e bioengenharia, aderindo a uma visão holística, combinando desenvolvimento urbano sustentável com o crescimento. O projeto também visava recuperar o valor histórico e cultural do rio, além de restaurar a economia da metrópole. Muito embora seja uma realidade aquém da situação dos rios e do saneamento básico brasileiro, é algo a ser analisado e aderido, com o propósito de trazer melhores condições ao quadro ambiental e social.

Panorama dos Rios Urbanos em Salvador

Os rios soteropolitanos são alvo de atenção e projetos de reabilitação por entusiastas da área do saneamento e meio ambiente. Os rios na capital baiana possuem um potencial paisagístico depredado e também desperdiçado.

A cidade de Salvador possui um vasto potencial hídrico, contemplando rios sinuosos e de demasiada extensão, os quais são de grande importância para a capital baiana, devido a sua magnitude e influência para o meio. De todos os rios de Salvador, os que mais se destacam pela sua morfologia e vínculo com a sociedade, sejam nas questões que influenciam na interação com a paisagem da cidade, na balneabilidade de praias entre outras variáveis, são os rios Camarajipe, Lucaia, Jaguaribe, o Rio das Pedras, e o Rio dos Seixos. São rios inteiramente estabelecidos no município, desde o nascimento até sua foz, e que recebem uma carga massiva de efluentes e também sofreram transformações ao longo do processo de urbanização da cidade.

As soluções sustentáveis para otimização deste quadro refletem amplamente no âmbito econômico e socioambiental.

Rio Camarajibe. Fonte: Wikipédia.
Rio Camarajipe – projeto de reabilitação. Fonte: Adaptado de FERREIRA (2013), CERQUEIRA (2013) e Acervo Pessoal do Autor (2019).

Perspectivas para o Futuro

No rumo desta cadeia de variáveis, nota-se que os eventos danosos ao saneamento ambiental em Salvador são todos intimamente ligados à questão do esgotamento sanitário, resíduos e drenagem urbana.

Dessa forma, a mudança de abordagem e percepção sobre os rios é imprescindível para promover a transformação do ambiente, já que é necessário que a população que habita em cidades possuindo rios urbanos, como Salvador, desenvolva consciência da relevância que eles têm para os seres vivos que dela dependem, incluindo ela mesma, bem como para as diversas relações ecológicas que nela são promovidas, mantendo desse modo o equilíbrio natural do meio (BARRETO, 2017).

As condições de degradação dos rios necessitam de uma melhor contemplação para solução das dificuldades encontradas, assim como o advento de um despertar da consciência coletiva, promovida por ações como a de Educação Ambiental, visando mostrar a relevância que esta vertente tem para a sociedade.

Considerações Finais

Os rios nos espaços urbanos merecem uma atenção especial. A iniciativa de restauração e renaturalização dos rios são de extrema importância e deve ser tomado em todas as cidades brasileiras que possuem o mesmo enfrentamento, buscando preservar este grande legado, o qual simboliza o país.

Em Salvador, os projetos de intervenção nos rios têm sido promovidos por esferas distintas do Poder Público, sem a consulta e participação social e desconsiderando a utilização de tecnologias apropriadas aptas a manter os processos ecológicos dos rios e sua função no ambiente urbano. Com o ambiente restaurado, a cidade revitalizaria também o setor socioeconômico.


William Paulo Ribeiro é engenheiro ambiental e sanitarista, atuando como consultor e educador ambiental. É palestrante em eventos acadêmicos e voluntário em ações e grupos ambientalistas diversos. Atualmente é voluntário ativo no programa “Observando os Rios”, do SOS Mata Atlântica, onde atua em Salvador e região metropolitana.

Fontes Consultadas

CARDOSO, A. M. T. Verificação da Qualidade da Água e dos Sedimentos no Rio Tietê entre as Barragens de Promissão e Ibitinga (2014). Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/115791/000803158.pdf?sequence=1&isAllowed=y, Acesso em 05/05/2018.

DISARO, A. O Renascimento do Cheonggyecheon. Disponível em: http://www.viveraviagem.com.br/cheonggyecheon/ Acesso em 20/05/2018.
KOREAPOST. Os Fantásticos Projetos de Regeneração Urbana da Coreia. Disponível em: http://www.koreapost.com.br/featured/os-fantasticos-projetos-de-regeneracao-urbana-da-coreia/ Acesso em 20/05/2018.

MACHADO. P. B. Situação Sanitária de Rios Urbanos. Estudo de Caso para o Rio Camarajipe, Salvador/BA. (2016). Disponível em: http://www.repositoriodigital.ufrb.edu.br/bitstream/123456789/1041/1/TCC%20Poliana%20Brandão%28Versão%20Corrigida%29.pdf, Acesso em 09/05/2018.

NEVES, L. F. F., NASSAR, C. A. G. Avaliação e Comparação da Qualidade da Água e do Sedimento entre Trechos da Bacia Hidrográfica do Médio Paraíba do Sul, Região Sul Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, Brasil (2017). Disponível em: 
http://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2017/VIII-037.pdf. Acesso em 10/05/2018.

O GLOBO. Poluição doméstica, a principal agressão ao Rio Paraíba do Sul. Disponível em: 
https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/poluicao-domestica-principal-agressao-ao-rio-paraiba-do-sul-7083330, Acesso em 20/05/2018.

SILVA, H. K. P. da. Concentrações de metais pesados nos sedimentos do estuário do rio Capibaribe, na região metropolitana do Recife (RMR) - Pernambuco, Brasil. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Oceanografia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.

YACAR, I. S. Propostas de Despoluição e Aproveitamento Ecológico, Social e Econômico do Rio Tietê no município de São Paulo, 2015. Disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Ciencias_Biologicas/TCC/TCC_1_2017/Isabella_Saad_Yacar.pdf. Acesso em 10/05/2018.


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