Como acontece a coleta seletiva no mundo?

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A coleta seletiva é uma parte importante do gerenciamento de resíduos sólidos. Conhecemos como ela acontece no Brasil, será que nos outros países é diferente?

Sabemos que a coleta seletiva tem por objetivo separar de forma diferenciada os resíduos de acordo com sua constituição ou composição.

Em outras palavras, resíduos com características similares são selecionados pelo gerador (que pode ser o cidadão, uma empresa ou outra instituição) e disponibilizados para a coleta separadamente.

Cada tipo de resíduo tem seu próprio processo de reciclagem.

Na medida em que vários tipos de resíduos sólidos são misturados, sua reciclagem se torna mais cara ou mesmo inviável.

O processo industrial de reciclagem de uma lata de alumínio, por exemplo, é diferente da reciclagem de uma caixa de papelão ou uma garrafa de vidro.

No Brasil, existe a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a qual estabelece que a implantação da coleta seletiva é obrigação dos municípios, sendo que as metas referentes à coleta devem fazer parte do conteúdo mínimo que deve constar nos planos de gestão integrada de resíduos sólidos.

 A coleta seletiva nos municípios brasileiros deve permitir, no mínimo, a segregação entre resíduos recicláveis secos e rejeitos.

Os resíduos recicláveis secos são compostos, principalmente, por metais (como aço e alumínio), papel, papelão, tetrapak, diferentes tipos de plásticos e vidro.

Já os rejeitos, que são os resíduos não recicláveis, são compostos principalmente por resíduos de banheiros (fraldas, absorventes, cotonetes…) e outros resíduos de limpeza.

Mas será que ela funciona da mesma forma em outros países?

Itália

Recentemente estive conversando com a Arquiteta Alice Cardoso, que está na Itália, e ela me contou que lá, cada dia da semana é coletado um tipo de resíduo, sendo que em alguns dias da semana pode ocorrer a coleta de mais de um tipo de resíduo ou ainda pode ocorrer a coleta do mesmo resíduo mais de uma vez por semana.

Segundo a Arquiteta, a coleta ocorre de segunda a sábado, conforme itinerário abaixo:

Segunda feira: orgânico e indiferenciado (não reaproveitável – apenas fralda);

Terça feira: papel e vidro;

Quarta feira: indiferenciado (não reaproveitável);

Quinta feira: orgânico;

Sexta feira: indiferenciado e multimaterial (ex. plástico, alumínio);

Sábado: orgânico.

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Folder sobre coleta de resíduos.

Existe ainda um dicionário de resíduos (conforme figura abaixo), cujo objetivo é auxiliar a disposição do resíduo de forma correta, sendo que os resíduos que não se encaixam nas categorias reaproveitáveis, são classificados como “indiferenciados”.

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Dicionário de Resíduos.

Existe ainda um dia específico para a coleta de fraldas descartáveis.

Já o descarte de óleo vegetal é feito separadamente, ou seja, pela cidade existem pontos de coleta onde pode-se depositar o óleo usado.

O mesmo procedimento serve para lixo eletrônico ou eletrodomésticos, que podem ser recebidos em locais específicos, de acordo com indicação de cada município, disse Alice.

Existem também horários específicos para a colocação desses resíduos. As lixeiras (padronizadas) contendo os sacos de “lixo” são colocadas na frente das residências.

Na cidade de Campo Calabro, por exemplo, em alguns pontos, a coleta acontece a partir das 8h e em outros a partir das 14h.

São utilizados sacos biodegradáveis para o descarte de orgânicos.

Os supermercados costumam vender sacolas biodegradáveis aos clientes, os quais pagam em torno de 15 centavos de euro por unidade.

Para os demais, não há necessidade de colocar em sacos, apenas na lixeira, pois são resíduos secos. Após a coleta, o cidadão retira a lixeira da frente de sua casa e guarda novamente.

É recomendado colocar o lixo próximo ao horário da coleta. Um detalhe bastante interessante é que muitas embalagens de produtos vendidos na Itália indicam onde descartar cada parte do produto, facilitando assim a coleta seletiva.

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Exemplo de indicação dos tipos de materiais do produto.

Isso ocorre em todo o país, mas cada município é responsável por orientar os habitantes. Um detalhe é que, caso não seja cumprida a separação dos resíduos ou ainda os resíduos sejam colocados no dia errado, a pessoa é multada.

 “A cidade cria seu manual e nele contém orientações. Além de ensinar a descartar corretamente, dá dicas para reduzir a produção de lixo, como usar composteira orgânica, consertar em vez de jogar fora e reaproveitar materiais, além de incentivar o uso de fraldas de pano” (Alice Cardoso).

Além disso, conversando com outro colega (Henrique Bonetti) que trabalhou na construção civil na Itália, os resíduos da contrução civil tem um destino adequado e os mesmos devem ser pagos. Ele enfatizou ainda que os aterros não podem ser feitos com esses resíduos, devendo as empresas pagar por sua disposição final.

Outros países

Aproveitando esta conversa com a Arquiteta Alice Cardoso, busquei conhecer a coleta seletiva em outros países.

Na Africa do Sul, por exemplo, a coleta passou a ser um fenômeno socioeconômico que aumentou ao longo dos anos, devido ao aumento da pobreza e da vulnerabilidade econômica de grupos marginalizados.

Os catadores realizam pouca compostagem do resíduo orgânico e focam seus esforços na coleta de plástico, papelão e vidro.

Por isso existem organizações como a Zero Waste Europe e GAIA, que abordam e conscientizam esses países sobre os reais objetivos da coleta, seus benefícios e consumo consciente, focando sempre no Lixo Zero.

Com uma das maiores densidades populacionais do mundo, o Japão enfrenta uma série de dificuldades para administrar o resíduo produzido.

Lá, os resíduos são tratados por quem os gera, ou seja, a população. Para isso, eles possuem um manual (figura abaixo), que os ensina a separar adequadamente os resíduos para coleta.

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Manual

Este manual é distribuído para todos os moradores pela prefeitura de cada cidade. Os rejeitos devem ser meticulosamente separados dentro de casa, de acordo com o tipo e destino, e há horários específicos para cada tipo de resíduo.

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Lixeiras (Japão)

O Japão é um exemplo mundial no campo de reciclagem.

Em 2010, 77% dos materiais plásticos foram reciclados. A reutilização de garrafas PET chega a 72% (até 1995, não passava de 3%) e a de latas está em torno de 88%. Com 128 milhões de pessoas e pouco espaço para aterros, o país incinera 80% do lixo que produz.

Assim como na Itália, aqueles que desobedecem as regras de separação, coleta e reciclagem são multados, as multas podem chegar em até 250 mil reais.

A Austrália é o 9º país que mais recicla no mundo (recicla 2,4 milhões de toneladas de resíduos), sendo que o governo criou uma estratégia para acabar com os os lixões no país.

A coleta seletiva faz parte da educação dos australianos nas escolas, onde eles aprendem desde criança, que o que parece “lixo” pode e deve ser reutilizado para outros fins, evitando que haja acúmulo desses resíduos.

As cidades estão divididas em “Councils” (conselhos), que podem ser formados por 4 ou 5 bairros, dependendo do tamanho da cidade.

Cada Council é responsável pela coleta do resíduos dos seus residentes. Eles administram pequenas necessidades dos cidadãos, como a limpeza das ruas, dos parques e a sinalização de ruas próximas às escolas.

Quando uma casa é construída, por exemplo, o proprietário entra em contato com o Council e recebe, gratuitamente, três lixeiras grandes (Lixo Geral; Lixo Reciclável e Lixo Orgânico).

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Lixeiras na Austrália
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Foto por Felipe Basquiroto de Souza

Um detalhe bastante interessante é que a coleta acontece de forma mecânica. O motorista do caminhão de “lixo” comanda um braço mecânico que esvazia a lixeira no caminhão.

Benefícios da Coleta Seletiva

Coletar e separar o resíduo podem trazer consigo uma série de benefícios, tais como: o aumento na reciclagem do resíduo; melhor acessibilidade e redução quanto a extração dos recursos naturais;  diminuição da poluição do solo, da água e do ar; economia no consumo de energia e água; conservação do solo; limpeza e higiene da cidade, inclusive podendo reduzir criadouros de mosquitos transmissores de doenças; prevenir enchentes; diminuir os gastos com a limpeza urbana, além de gerar  emprego e renda pela comercialização desses resíduos.

Referências:

Blog sobre resíduos: http://www.trashisfortossers.com/;

Coleta na Austrália: https://hellowesternaustralia.wordpress.com/2016/06/24/sistema-de-coleta-de-lixo-na-australia/;

Lixeira Reciclável Troca Resíduos por Prêmios na Austrália: http://www.fecomercio.com.br/noticia/lixeira-reciclavel-troca-residuos-por-premios-na-australia;

8 TED Talks sobre Consumo Consciente: http://www.funverde.org.br/blog/8-ted-talks-sobre-consumo-consciente/;

Reciclagem na Austrália: http://www.brasileiraspelomundo.com/australia-residuos-e-reciclagem-201430116;

Transformando Lixo em Comida:https://www.youtube.com/watch?v=D83CPfWAQFE;

Zero Waste in Africa: http://globalrec.org/2014/10/22/zero-waste-approach-a-must-in-south-africa/.


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Author: Émilin CS

Engenheira ambiental. Têm experiência na área de saneamento e gestão ambiental, buscando soluções usando QGIS e Bizagi. Atua na área de modelagem matemática para rompimento de barragens com software HEC-RAS.

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