Conto: Maldição da Meia-Noite
Imagine você estar sozinho em seu laboratório e do nada coisas estranhas e bizarras começarem a acontecer? Acompanhe o conto e saiba mais.
[Texto originalmente encaminhado para Concurso de Contos da Livraria Curitiba]
Laboratórios podem ser locais sombrios e lúgubres. Porém, sempre permaneci diversas noites sozinho no laboratório da universidade. Poucos professores tinham a minha determinação e empenho para acompanhar os experimentos e aprofundar-se nos estudos.
Aquele cheiro acre e nauseante já era familiar e as carcaças grotescas que outros alunos traziam para as aulas não me surpreendiam.
Naquele final de semestre, saturado de provas e atividades falhas, me direcionei ao laboratório para me entreter um pouco. Ao abrir a porta do recinto, deparei-me com uma aluna que nunca havia visto. O cabelo escuro preso escondia parte de sua orelha esquerda, o qual vinha a ser exposta quando ela falava e passava a mão nele.
E seu olhar era indagador. Ela carregava consigo um cachorro coberto de feridas e infestado por parasitas de diversos tipos. O cachorro fora encontrado próximo ao laboratório e ela pensou em ajuda-lo, sabendo que nos laboratórios haveria algum tipo de kit de primeiros socorros.
Como o laboratório que eu trabalhava era o único aberto àquelas horas, socorri a garota e seu amigo animal, sendo que posteriormente sugeri que ela o deixa-se no laboratório pois sua condição era delicada e que eu o observaria durante a noite. Ela me agradeceu e disse que passaria no dia seguinte ali com ração para alimentá-lo.
E mais uma noite de trabalho se iniciou junto ao meu novo companheiro. Indubitavelmente, todas as noites eram silenciosas no laboratório, facilitando meu trabalho, pois costumo perder a atenção com facilidade. Porém, naquela noite, além da presença do cachorro taciturno, um vento arrepiante soprava lá fora. Me movimentei para fechar as janelas, pois muitos dos equipamentos eram sensíveis e a presença de poeira poderia prejudicar as análises.
Numa breve passagem pelas janelas, percebi um ligeiro cheiro fétido, como se algo antigo havia ressuscitado e caminhava a esmo. Não tratava-se do cão, pois já teria notado o fedor. Não dei muita atenção à ele, pois ao fechar às janelas, o cheiro sumiu.
Sentei-me para retornar aos meus estudos, ao lado do meu companheiro. Ao olhar para ele, percebi que ele estava sentado, olhando de forma vidrada pela janela, chamei-o algumas vezes, e ele não me respondeu.
Um calafrio tomou conta do meu corpo quando tentei olhar pela janela. Mas não havia nada lá. Aliviado, me levantei para verificar a saúde do cão quando ele me fitou com olhos vermelhos e palavras arcaicas foram sussurradas na sala, as luzes instantaneamente se apagaram e um força me lançou contra a parede, senti uma pressão enorme sobre meu corpo e desmaiei.
No dia seguinte, me encontraram desacordado no chão, e atribuíram minha queda à algum descuido devido ao cansaço. Nada disso me preocupava, o terror me tomou conta quando não encontrei o cão e ao me deparar com a garota que o trouxe, ela me disse:
“Desculpe por ontem a noite”, pensei que ela iria mencionar o cão abandonado, mas suas palavras finais foram piores, “Retornei para buscar ele e acabei te derrubando”.